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Homilia do XXXIII Domingo do Tempo Comum - ano A - Frei João Santiago

Publicado por Frei João de Araújo Santiago | 15/11/2020 - 07:24

XXXIII Domingo do Tempo Comum - ano A - Mateus 25, 14-30.

Já estamos fazendo aqui e agora o nosso juízo final. O Senhor, no final, irá ler aquilo que nós estamos escrevendo agora.

14. “(O Reino dos Céus) Será também como um ho­mem que, tendo de viajar, reuniu seus servos e lhes confiou seus bens. 15.A um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro, um ..... 16.Logo em seguida, o que recebeu cinco talentos negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros cinco. 17.Do mesmo modo, o que recebeu dois, ganhou outros dois. 18.Mas, o que recebeu apenas um, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor. 19.Muito tempo depois, o senhor daqueles servos voltou e pediu-lhes contas. 20.O que recebeu cinco talen­tos aproximou-se e apresentou outros cinco: ‘Senhor’ – disse-lhe –, ‘confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco que ganhei’. 21.Disse-lhe seu senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor’. 22.O que recebeu dois talentos adiantou-se também e disse: ‘Se­nhor, confias­te-me dois talentos; eis aqui os dois outros que lucrei’. 23.Disse-lhe seu senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor’”.

- O Evangelho desse domingo nos fala acerca do definitivo: “o Reino dos céus será também como um homem que, tendo de viajar para o exterior, chamou os seus servos e lhes confiou os bens.... Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e lhes pediu as contas” (vv. 14-15).

- A parábola fala de “talentos”. Cada ser humano passando por este mundo recebe “Talento”. Talento é a possibilidade que cada um tem e que de Deus recebeu (dons, dotes, sensibilidade, talentos, capacidades, emoções, ideais, amor, confiança, liberdade, bons desejos). Mas, é também mais do que isso. “Talento” sou eu mesmo, minha vida. E podemos dizer também que “talento” é o Espírito Santo, a herança que o Ressuscitado nos deixou. Tal Espírito Santo nos capacita a participar do projeto grande do Pai.

- Não estamos “órfãos”. O senhor nos deixou talentos, sua herança, seu Espírito Santo, sua força que se transforma em obras e práticas que promovem nossas famílias e comunidades. É só se deixar guiar pelo Espírito tal como uma árvore frutífera que recebendo luz e água sempre dá frutos. Que a Palavra seja eficaz, que nossos sacramentos nos santifiquem, que nossa caridade seja operosa.

- Mesmo que eu tenha recebido apenas um talento, sempre terei recebido muito e abundantemente. Com um talento (38 kg de metal precioso) uma família poderia passar muito bem e viver sossegada por 30 anos. Portanto, mesmo que eu tenha recebido um só talento, posso me considerar pleno e rico de capacidade para fazer da minha vida uma difusão do Espírito Santo, Espírito de amor. Trata-se de multiplicar os talentos. Mas multiplicar o talento tem seu preço e um preço bom. Um dia, depois de um aplaudidíssimo concerto, Andrés Segovia, considerado o maior violonista de todos os tempos, recebeu um fã que lhe disse: “Mestre, darei a vida para tocar como você!”. Andrés Segovia respondeu: “É exatamente o preço que eu paguei (pagou com a vida). Estás, meu jovem, disposto a fazer tudo o que eu fiz (estudos, dedicação, renúncias, lutas, lidar com invejas, solidão, etc.) para pôr para fora teu talento?” A vida que faz acontecer os talentos, que gera frutos, exige empenho e dedicação a fim de não sufocar o amor de Deus recebido, a fim de tornar a vida uma grande e alegre prestação de serviço aos que nos cercam.

- Um dia vi uma criança muito feliz. Estava radiante e exultante. Estavam ele e seu pai lavando o carro do pai. Mas para a criança o carro também era dele. Importava, para ele, está com o pai se dedicando a uma causa comum: lavar o carro. Assim, multiplicar os talentos é participar do projeto do Pai, não é uma “tortura”. Tem seu preço e um preço bom, gratificante.

- 24.Veio, por fim, o que recebeu só um talento: ‘Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. 25.Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence’. 26.Respondeu-lhe seu senhor: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei. 27.Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu

- Muitos se negam a participar do projeto do Pai. Entendem o Pai como um patrão carrasco que não confia em seus filhos, que exige só sacrifícios e não é capaz de amar e de partilhar sua vida. Diante de tal realidade vemos o quanto seja proveitosa e saudável uma sã imagem de Deus. Quem nos pode ofertar tal imagem saudável? Jesus crucificado – o doador de vida - enquanto mostra a potência divina e amorosa vencedora do mal, do pecado e da morte que campeiam no mundo.

Se enterrarmos aquilo que podemos ser, teremos, então, inutilizado o dom de Deus, a nossa própria vida: “Servo mau e preguiçoso!” (v. 26). Não basta viver, não basta estar vivo, importa multiplicar a vida, fazer outros vivos (“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundancia” Jo 10,10). Parece que o servo mau e preguiçoso não aceita não ser o dono da vida, e não entende que a vida é um dom a ser doado, pois é no dom da vida que a vida se torna abundante.

- “Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu” (v. 27): “Quem trata bem os pobres empresta ao Senhor, e ele o recompensará” (Pro 19,17).

- “28.Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez. 29.Será dado ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem será tirado mesmo aquilo que julga ter. 30.E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes’”.  Quem quiser prender o respiro para não perder o ar que se tem, morre sufocado.  É no dom da vida que a vida se torna abundante. 

Sobre o autor
Frei João de Araújo Santiago

Frade Capuchinho, da Província Nossa Senhora do Carmo. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Teologia Espiritual. Tem longa experiência como professor, seja no Brasil, como na África, quando esteve como missionário. Por vários anos foi formador seja no Postulantado, como no Pós Noviciado de Filosofia. Atualmente mora em Açailândia-MA. Já escreveu vários livros e muitos artigos.